quarta-feira, 5 de agosto de 2009

FUNCA-Pirituba

Saudações, grupo do Teatro!

É sempre bom falar com um grupo. Penso ser mais orelhas disponíveis. Assim nossa voz torna-se mais ouvida.

Embora tenha passado rapidão, quero agradecer a oportunidade de visitá-los dada pela professora de vocês, Karina. E também parabenizá-los pelo empenho artístico. Muito bem! Tive verdadeira vontade de trabalhar com vocês. Isto é, bastante confiança, não para apresentá-los a grandes teatros e em Festivais (apenas), mas para dominar os espaços (do mundo) com arte e vida. Provaram que vão além dos limites e estão organizados pra isso, são capazes de se libertarem com o teatro e olhar de forma diferente para as coisas, por outro viés, buscar outras vias, outras alternativas, diferentes do padrão ‘papai-mamãe’ que todo mundo já busca...

Vocês têm um potencial imenso para isso. A referência de vocês não são as óbvias. Incrível, então, vocês se interessarem por teatro. E mais incrível o que podem fazer com ele, acreditem. Alguns perceberão que esse impossível só pode ser Deus, ou para Ele. A gente percebe isso nas situações mais difíceis, mais tensas, no aperreio, quando só dá pra contar com Deus mesmo. Mas fazer teatro não é senão brincar de Deus provavelmente.

Sei que falei demais até. Fui aí só pra ver... (E também pra fazer o aquecimento... que é importante mesmo se preparar para desenvolver qualquer técnica. Só entra em campo o “Jogador” com preparo). Quero, contudo, filosofar um pouquinho... É que vocês disseram, com todas as letras, que teatro é uma forma de expressão. Pô, isso é tão estimulante que passei adiante, para o que é fazer a cena, não tanto como atuá-la, porque isso a Karina já está passando e melhor do que eu poderia pra vocês, mas um pouco do que é “escrevê-la”. Antes, ainda tenho que lhes dizer que sim, sem dúvida, Teatro é o meio de comunicação que utilizamos dia a dia. É uma linguagem simples, pois que até o analfabeto faz Cena, a criança faz. E vocês terão facilmente o controle de suas expressões através de muito esforço e treino.

Para conhecer alguém, ande junto com essa pessoa. Para saber melhor de algo, vá aos princípios (e da origem acompanhe as transformações). Qual a primeira expressão? Sem dúvida, é nascer. Talvez expressemos algo quando damos algumas pancadas na barriga da nossa mãe, mas isso só ela percebeu ou só alguns. Quando nascemos nos encontramos com o mundão aqui fora e com os outros de fato. Depois abrimos um berreiro, cagamos, mijamos, depois falamos... E tudo isso é expressar. Expressamos ações e todas elas imitam a primeira, que é nascer. A fala nasce da boca, o gesto nasce do corpo, as idéias, tudo nasce... E imitamos isso. Imitamos o movimento criador. Imitamos para aprender criar. Imitamos para aprender qualquer coisa, pois nós imitamos, na verdade, ao expressar, ao se comunicar, o nosso nascimento. Mas criar, no entanto, não é só por no mundo, não é mesmo? É acompanhar as transformações. É saber no que vai dar aquilo que a gente falou, o que a gente fez e, também, todas as nossas ações, nossos gestos, nossas vidas. E, por isso, existe o teatro. Pra gente ver tudo isso acontecendo. E é por isso, também, que é usual no teatro a ação ter um propósito, ter um fim, uma finalidade, porque queremos saber no que vai dar. Ver por inteiro, estar por completo.

Teatro: “lugar da onde se vê”. Quando disse pra vocês que é sempre um conflito que chama a nossa atenção, que o lugar do palco é zona de interesse pelo suspense, pela tensão (e por isso que ele é suspenso), é porque, na verdade, o que queremos ver são esses conflitos serem resolvidos, quais resoluções; tendemos por buscar finalidades (porque tudo que nasce tem um fim, que determina seu ciclo natural). A gente não vê aonde a nossa própria vida vai dar, porque morre, mas somos capazes de dar sentido para a vida de um outro e chegar ao fim. Além de criarmos sentidos para nós mesmos durante a vida toda. Falei... me desculpem, vocês merecem ser vistos, ouvidos e visitados... me chamem, irei com prazer.

Abraços. Bravo!

Daniel.

Você vai me seguir?